quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Capítulo IV


Envolvida em máscaras de papel vermelho e pulseiras feitas de contas de terços partidos, olhei para meus calcanhares em carne viva, e senti que podia me despir de qualquer sensação vinda de meus olhos cansados e simplesmente sorrir.

Eu não precisava que ninguém chegasse perto de mim, soprasse em meu rosto para que, enfim , eu visse o que estivesse à minha frente sem as dores de minha miopia triste;

Lambi a palma de minha mão esquerda e senti o gosto amargo do tempo passado entre dias e noites envolvidos nos véus de minha imaginação sem asas;

Repeti minha palavra favorita cem vezes seguidas até seu significado se perder em minha língua e eu cair tonta com suas sílabas em minha cabeça;

No final, ouvi A Case Of You na vitrola velha escondida na cortina branca de minha casa vazia. Só eu e aquela capa azul.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Sweet, sweet, sweet...

James Taylor e Carly Simon em You Can Close Your Eyes (1977)

Aplausos


Desde a primeira vez que ouvi uma música de Nick Drake (Fly) tento de certa forma ler o que se passa em sua mente. Minha curiosidade aumenta pelo fato de não haver nenhum registro em vídeo de Drake, apenas fotos e suas canções. Sempre o imaginei com alguém que vive dentro de si, com o sentido da vida entre as mãos e o gosto do que pode acontecer bem à sua frente. Murmúrios surdos de confissões ouvidas ao pé do ouvido, sons de súplicas que não puderam ser atendidas, um universo dentro de uma casca de noz: Nick Drake era um ser que só me existia nos sons, na voz suave de de quem ama e no olhar de quem quer dizer tudo, prestes a dizer o que se esconde entre os olhos.

Ele não me era humano. Ele se escondia na bruma, nos meus sonhos ternos, atrás de mim.

Foi quando me deparei com Tanworth-In-Arden, um bootleg italiano contendo algumas gravações caseiras de Drake feitas entre 1967 e 1968.

Don't Think Twice It's All Right estava bem ali. Começa tímida e baixa, e Drake até erra a letra. É cantada a murmúrios, quase como uma canção de ninar. O lamento triste de Dylan por Suze Rotolo se transforma em uma canção dominada pela preciosidade do adeus, da necessidade de se despedir do que já não mais nos pertence. A versão de Bob Dylan continua sendo minha favorita (!), mas é como se Drake passasse a existir para mim no momento que o ouvi cantar essa música.

Nessa hora eu tive certeza: ele podia sentir o que os outros sentiam, ele podia ouvir os que outros ouviam. Drake se materializou naquela gravação antiga, era ele no meio dos ruídos.

Nick Drake cantando Bob Dylan. Acho que ouvi aplausos.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Cover Girl

Cybill Shepherd

sapatinhos vermelhos


Eu me lembro dos tempos em que eu tinha cinco anos e dançava balé.

Lembro que uma vez fiquei impressionada com a caixa de 4 cds de música clássica que a professora trazia para a aula. Só porque era vermelho escura e tinha um punhado de rosas na capa - nessa hora, meus movimentos estavam na mente, não nos pés;

Eu me lembro de todas nós sentadas em frente a um videocassete assistindo a espetáculos de balé - quando tudo o que me passava pela cabeça era como as bailarinas ficavam tão bem na pontinha dos pés. Eu queria estar em um daqueles vestidos brancos;

Naqueles espetáculos, eu tentava me banhar na luz azul que chegava aos palcos e manchava as saias claras de lilás;

O cabelo enrolado em um coque era tão faceiro quanto o rosa da minha saia envolvida no meu colã;

Até que meus pés se destruíram. Eles me levaram para a porta de um trem e os meus sapatinhos ficaram vermelhos.

Aquilo era para sempre. Era maravilhoso.

terça-feira, 30 de novembro de 2010

eclipse

All that you touch
All that you see
All that you taste
All you feel
All that you love
All that you hate
All you distrust
All you save.
All that you give
All that you deal
All that you buy,
Beg, borrow or steal.
All you create
All you destroy
All that you do
All that you say.
All that you eat
everyone you meet
All that you slight
Everyone you fight.
All that is now
All that is gone
All that's to come
And everything under the sun is in tune
But the sun is eclipsed by the moon.

(Roger Waters, 1973)

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

à demain


Saudades imensas de Antoine Doinel e de François Truffaut.

Eu podia sentir o cheiro do rolo de filme passar entre as imagens.

Saudades de Ferdinand e das loucuras de Godard.

Eu podia espremer os filmes e sair cores entre meus dedos! =/

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Em outro lugar



Parada bem aqui para escrever qualquer coisa que sirva de consolo. Nessa hora me vem à cabeça a voz da Sandy Denny cantando The Ballad Of Easy Rider (Sorry, Jim McGuinn, mas a versão do Fairport ficou bem melhor que a sua) e aquela capa legal do Unhalfbricking, com os pais dela perto de um portão e o Fairport no cantinho da capa.

Isso tudo é para escrever sobre um dos meus álbuns favoritos e não conseguir! =/

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Ma Love

Steve Winwood

terça-feira, 9 de novembro de 2010

No portão de trás


com todos os pensamentos entre as mãos e o desejo incontrolável de enterrá-los na areia fria. O depois vem juntamente com o antes e parece que toda minha vida está sendo resumida a uma música tocada por um velho senhor no quintal de sua casa.

Jogando todas as sensações possíveis na lata do lixo;

Com o gosto amargo de um futuro previsível.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

I'll keep it with mine


"But how long, babe
Can you search for what’s not lost?
Everybody will help you
Some people are very kind
But if I can save you any time
Come on, give it to me
I’ll keep it with mine"

Sério mesmo, Bob? : (

terça-feira, 26 de outubro de 2010

In my room

Sabe aqueles dias em que ficar deitado rezando para um nada é o melhor a fazer do que sequer tentar ver o que acontece pela janela? Ou tudo o que acontece dentro de você mesmo é só fruto de uma vontade insuportável de ser insignificante para a sua própria consciência, se é que ela existe?

É exatamente aquela vontade que se tem de entrar dentro daqueles globos de vidro e ser um daqueles bonecos de neve estúpidos olhando para a mesma direção em cima de uma estante.

O melhor a fazer é tentar rir olhando para trás com a nostalgia de quem abre uma caixa e acha um LP dos Beach Boys escondido entre fotos antigas. E começar a ouvir In My Room.


sábado, 23 de outubro de 2010

Reality


Mergulhada em versos de John Keats e rendas de Fanny Brawne...

E ainda existe uma parede entre o que eu desejo ter e o que chamo de realidade.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Over & Over

Vontade de fechar o mundo entre as mãos e apertá-las até que toda a humanidade saia entre meus dedos;
Vontade de não sentir nada e estar perto para não ver;
Vontade de não ser;

Vontade de estar longe;

Vontade de não estar lá
Vontade não saber por quê

Vontade de provar o tempo, deitar, parar, parar, voltar

De novo e de novo

domingo, 3 de outubro de 2010

1961


Foi exatamente esta conversa que ouvi enquanto esperava ser chamada no consultório médico :

"No momento que eu senti que tudo aparecia em frente aos meus olhos poderia se tornar pó entre as lembraças tardias, eu me prendi ao que nós chamamos de sensações da alma. Percebi que viver de momentos breves pode também fazer de mim uma pessoa breve, mas ao mesmo tempo infinita, daquelas que não conseguem a disciplina necessária para se tornar sãs. Peguei uma tesoura que estava dentro da gaveta e, naquele exato momento, cortei as alças de meu vestido azul só para sentir o frio de minha tristeza sobre minha pele. Passei batom vermelho, rasguei fotos antigas e me prendi no desespero de uma Monica Vitti. Todo o perigo que me cerca é resultado de minha negligência cega, insípida e cortante e tudo que acontece e me atinge, de uma forma ou de outra, é causado pela minha estranha "felicidade", que insisto em chamar de mórbida. "

E aquela sinceridade pulsava em mim como uma série de instantâneos tirados ao meio-dia...

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Dear Mr.Winwood...

Duas da manhã, aula bem cedo e as minhas mãos no cabelo do Steve Winwood:



Eu me casaria fácil com a voz do Art Garfunkel, teria casos simultâneos com as do Leonard Cohen e do James Taylor, mas os MEUS FILHOS seriam da voz do Steve...

Sério mesmo.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Marianne, a Louca


Quem sabe a vida não seja realmente desse jeito?! Viver de mentira e ainda precisar disso para pelo menos existir...

O importante é só viver...

Pierrot, o Louco



"My name's Ferdinand!"

terça-feira, 14 de setembro de 2010

"End of summer/ No more shiny hot nights..."


For the Roses (1972) é um daqueles álbuns para serem ouvidos com o gosto amargo de confissões ocultas sobre a língua e a tristeza do olhar fixo sobre as coisas perdidas. Ainda há espaço para encontrar o som doce dos murmúrios nas cordas de seu violão, que toca como dor escondida sobre a pele, e no verde maduro que arde na foto da capa, de autoria de Joel Bernstein.

Aqui, aparece a capacidade de Joni partir o coração de quem a ouve, fazê-lo sorrir (nem que seja um sorriso partido) e ainda atingir o centro do que nos faz sentir o que nos chega através do pensamento. São canções para serem tocadas com as duas mãos e soltas através de ideias que você sabe que não vão durar muito.

Pelas rosas.

domingo, 29 de agosto de 2010

4th Time Around


"She threw me outside
I stood in the dirt where ev’ryone walked
And after finding I’d
Forgotten my shirt
I went back and knocked"

back.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

A caminho de casa

No Festival de Monterey Pop em 1967. Apresentados por John Phillips (The Mamas & The Papas).

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Tá, a última

(da esq. para dir.) Claude Lelouch, Jean-Luc Godard, François Truffaut, Louis Malle e Roman Polanski no Festival de Cannes, acho que em 1968.

Meu coração parou de bater por cinco minutos quando vi essa foto. Sobre o que eles conversavam? Dá para ver a minha cabeça bem ali atrás?

Adoro o nariz do Polanski! (hã?)

Fire

Julie Christie no set de Fahrenheit 451 (1966), de François Truffaut

quarta-feira, 23 de junho de 2010

correspondência

Já sinto que meu espaço caiu numa prova de fogo. Para que esperar a noite cair, ela me disse, se a noite por si só já está dentro de mim ?!

A cortina abre, uma luz vermelha entra no quarto, bate nas cinzas sobre os livros e ilumina aquele quadro com uma nuvem azul no meio da paisagem que eu costumava vestir para dormir.

Eu já me misturei àquela luz.

e o que restou de mim?

.poeira misturada em mágoa para exposição

domingo, 6 de junho de 2010

I'm a broken heart

John: We will live in the country.
Fanny: Close to Mama.
John: And our bedroom will look out onto a little apple orchard and beyond that, a mountain in a mist.
Fanny: We can make a garden where every sort of wildflower grows.
John: And we will go to bed while the sun is still high.
Fanny: And when it becomes dark, the moon will shine through the shutters.
John: And I will hold you close, and kiss your breasts, your arms, your waist.
Fanny: Everywhere.
John: Touch has a memory.
Fanny: I know it.

(...)

sábado, 5 de junho de 2010

Brilho de Uma Paixão (2009)


Brilho de Uma Paixão (Bright Star) é o nome do mais novo filme da diretora neozelandesa Jane Campion, a mesma do aclamado O Piano (1993). O roteiro é focado nos três últimos anos de vida do poeta inglês John Keats (!) (Ben Whishaw) e em especial no seu romance com a vizinha Fanny Brawne (Abbie Cornish). Como acontece com todo filme bom, a espera será longa: a estreia só ocorrerá dia 18 de junho.

Para quem está ansiosa para assistir desde maio do ano passado, treze dias não são nada...

Daqui a cinquenta anos


Danny uma vez me disse:

"Quando mal se espera, todos nós percebemos que quase tudo que passa pelas nossas mãos é efêmero. Tem certos momentos - aqueles em que não sentimos o perfume do orvalho da manhã fria ou acordamos tristes porque choveu no dia anterior - em que o melhor a fazer é aproximar-se de um rio e procurar onde pôr nossa alma. Porque com um rio a gente pode ensinar os pés a voarem, os pensamentos a escorrerem pela superfície e o nosso corpo a sentir o que existe nas entrelinhas.
Podemos conhecer a palavra que define nossa existência, ouvir o som que bate frio na nossa pele ou até mesmo sabermos a cor da nossa felicidade daqui a cinquenta anos para, enfim, nos darmos conta de uma coisa e voltarmos exatamente ao começo: juntamos as mãos para segurar o que possa escapar por entre elas.
Porque a gente pode vencer o tempo. Mesmo que ele seja passageiro".

Descobri que ele estava correto.

Sardas


Dá vontade de ser a Mia Farrow só para ser loira, ter sardas e casado com o Frank Sinatra!

quinta-feira, 3 de junho de 2010

New York Herald Tribune


Não sei onde ouvi isto, mas vamos lá: é muito mais glamouroso vender jornal do que trabalhar em um.

Jean Seberg que o diga...

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Bem longe


E sabe o que me aconteceu enquanto ouvia A Hard Rain's a-Gonna Fall ?

Uma chuva para me lavar a alma em plena madrugada!

Valeu aí, Robert Allen Zimmerman! (?)

Meet On The Ledge (1969)


"We used to say
That come the day
We'd all be making songs
Or finding better words
These ideas never lasted long"

Richard Thompson como o poeta do efêmero.

Ian Matthews e Sandy Denny:
o duo de vozes que é um só.


domingo, 30 de maio de 2010

A Freewheelin' Time


No West Village, em Nova York, um casal atravessa certa rua num dia qualquer de 1963. Ele com um casaco pesado e as mãos no bolso, com ar de James Dean, no auge de seus vinte e poucos anos. Ela, uma menina de dezoito, segura-se nos braços do namorado para, no meio de todo aquele frio, deixar escapar um sorriso quente. Eles parecem confiantes, livres. Duas almas contra a maré.

Bob Dylan e Suze Rotolo.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Valência, 1952

Foi num domingo.

Eu sabia que era um dia comum porque eu acordei me sentindo a mesma pessoa que era no dia anterior. Minha avó sempre me dizia que a gente só crescia e via o tempo passar entre nós se acordássemos com aquela sensação agradável da mudança em nosso corpo.

Eu não sentia nada.

A casa estava silenciosa. Estranho para uma manhã de Natal. Eu podia ouvir os cães latindo ao longe e o som da flauta doce do carpinteiro que morava ao lado. Meu sangue corria frio dentro das veias finas dos pés. Eu juntava minhas partes esquecidas, perdida nos traços invisíveis de minha personalidade triste quando ouvi um barulho vindo da cozinha.
Escondi-me atrás da mesa de jantar. Fiquei com medo. Olhei a cena pelo cantinho do olho.

Mamãe cozinhava algo no fogão. Eu podia sentir o cheiro de canela misturado ao aroma doce de maçã. De repente, alguém puxou seu cabelo bem devagar. Tocou-lhe mãos. Era papai.
Começaram a dançar. Mamãe ria, papai levantava as mãos. Balaçavam-se ao som que vinha do silêncio, sentiam o que estava no ar. Os risinhos abafados confundiam-se com os movimentos de seus corpos, com o calor do instante, com a cumplicidade dos dois.

A alegria transbordava a olhos vistos.

Eu não ousei interromper aquele momento. Presenciava o amor em sua manifestação mais bela e pulsante. Meus dedos dos pés correram pelo chão e, de repente, eu dançava também. Logo eu, aquela que não sentia nada.

Meus pais não me viram. Saí devagar, ouvindo a música imaginária, com a felicidade logo atrás de mim.

Fui dormir. Senti meus cabelos doces como maçã e canela.

terça-feira, 18 de maio de 2010

Sheryl Crow


Com um som que lança os ecos de um segredo bem guardado e uma atitude que deixa transpirar seu amor pela música, Sheryl Crow consegue transpor para seu trabalho o espírito de quem canta com os sentidos. As influências que permeiam sua obra - o rock, o folk, o pop, o jazz, o blues - correm fortes através de canções que expressam as dores dos relacionamentos amorosos, a solidão, a felicidade e a insatisfação diante do que acontece no mundo. Suas composições são fortes e cheias de humor de quem viveu e tem muito a contar. Crônicas genuínas da vida do ser humano.
Sua estreia se deu com o fabuloso Tuesday Night Music Club em 1993, um retrato fiel da geração anos 90. Os singles iniciais (Run, Baby, Run e Leaving Las Vegas) não tiveram muito destaque nas paradas, mas foi com o hit All I Wanna Do que as vendas do disco decolaram. O sucesso foi instantâneo e Sheryl ganhou três prêmios Grammy.
Depois de toda a popularidade alcançada, muitos críticos acreditavam que Sheryl não passaria de um hit. Felizmente, eles estavam errados. Os trabalhos de estúdio que se seguiram - Sheryl Crow (1996), The Globe Sessions (1998), C'mon C'mon (2002), Wildflower (2005) e Detours (2009) - só serviram para mostrar sua forte espontaneidade criativa.
Podemos ouvir Sheryl Crow ao nos depararmos com Shawn Colvin e Heather Nova. Stevie Nicks é uma influência marcante (Sheryl é devota confessa do trabalho da vocalista do Fleetwood Mac), tendo inclusive participado da gravação do álbum C'mon C'mon e lançado um single com Crow (If You Ever Did Believe). Sheryl possui aquele tipo de canção que se pode levar para casa e saber que, muitas vezes, o que está sendo contado ali é a sua história, a história de quem ouve. Seja protestando contra a Guerra do Iraque ou relatando como conheceu um cara engraçado num bar da esquina, Sheryl Crow mostra que a música tem vida. Nem que ela seja feita só para se divertir.

Abaixo, My Favorite Mistake, um dos melhores singles lançados por Crow. É do premiado álbum The Globe Sessions, de 1998 (juro que ainda vou resenhar todos eles!):




Comentário besta: não canso de ver esse clipe. Lindo.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Entre dois pulmões


Nada melhor contra a insônia que Florence + The Machine...

quinta-feira, 13 de maio de 2010

domingo, 2 de maio de 2010

Eu me perdi


tentando alcançar o Sol. Eu estava há tanto tempo sentada que nem percebi a dor dos anos que se passaram. Foi aí que eu decidi parar de perseguir aquelas coisinhas que só fazem nossos pés afundarem na areia - o sentimento de pequenez, o grito surdo dos que choram, o vazio deixado pela escuridão quando passa pela nossa casa. Decidi ignorar o vácuo que minha alma insiste em me dar toda vez que tenta calar minha voz.
Decidi pintar minhas unhas roídas, tirar meus dentes presos em minhas mãos egoístas e assumir meu medo diante dos fatos do mundo. Percebi que não sou uma Scarlett O'Hara, mas que posso ser tanto uma Sylvia Plath com suas fraquezas e o amor pela palavra quanto uma Virginia Woolf dentro de um rio com pedras no bolso.

Eu posso ser Maria Antonieta quando come bolinhos de glacê.
Posso ser o riso de Joni Mitchell quando canta Big Yellow Taxi.

Posso ser as estradas que não me amam.

Conheço muito bem o que me faz ficar de pé toda manhã.
E o engraçado é que, no fim, a gente ainda consegue ser feliz mesmo assim.

Happy Sad

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Chilly, chilly is the evening time...

Sério, The Kinks:



Waterloo Sunset's fiiiine!

...

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Rod Stewart


Muito antes de ser o rei da farofa, fazer parte da trilha de quase toda novela da Globo e ser presença garantida naquele churrasco de domingo do seu tio barrigudo que só sabe ouvir Bartô Galeno, Agnaldo Timóteo e Have You Ever Seen the Rain? (Deus salve John Forgety!), o inglês Rod Stewart era um autêntico frontman: sua voz rouca era ideal para um som mais ousado, com atitude e total falta de amarras - tudo de que o rock precisa. Não é à toa que foi o escolhido por Jeff Beck para integrar o Jeff Beck Group (escute a versão dele de "You Shook Me") como vocalista em 1966 e, mais tarde, convocado a participar do maravilhoso Faces (Staaaaay with me....) junto com o amigo Ron Wood, (que entraria para os Rolling Stones, após a saída de Mick Taylor, em 1974) até 1975.
Durante o período em que tocava com o Faces, Rod também lançou álbuns como artista solo. Gasoline Alley (1970) e Every Picture Tells A Story (1971) consolidaram a imagem de Rod como bluesman e vocalista por excelência. A faixa-título deste último é crua, áspera e vigorosa - exatamente como a voz de Stewart. O álbum Every Picture Tells A Story deu a ele seu primeiro lugar nas paradas americanas e britânicas, com o hit Maggie May (sobre um garoto que se apaixona por uma mulher mais velha) - até hoje sua música mais conhecida.
Depois de Never A Dull Moment (1972), surge o Rod que todo mundo conhece: cabelo igual a pelo de poodle, canastrão sedutor - veja o clipe de Tonight's The Night (Gonna Be Alright) - e cantando aquelas que todo mundo conhece - The Way You Look Tonight e, pasmem, Have You Ever Seen The Rain? (Mas espera aí - eu amo essas músicas!)

Não importa.

A gente ainda tem Maggie May!

Abaixo, Rod no seu melhor: FACES



Ele é tão inglês!!! *-* /groupiewayoflife

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Bela da Tarde

Catherine Deneuve, por Helmut Newton

De olhos fechados e esperando por um dia de chuva...

"McArtney"


Um dos singles mais valiosos da História, de acordo com a revista New Musical Express, "Love Me Do/ P.S. I Love You", dos Beatles, foi lançado em 1962 com uma tiragem limitada de 250 cópias. Não bastasse esse fato, o single também é conhecido por ter impresso erroneamente o nome do Paul, de McCartney para "McArtney" (ri pencas!)
E o preço de um desses??
£3000


Tenho um aqui em casa. Sério (?)

sábado, 17 de abril de 2010

I Shall Be Released



Joni Mitchell, Mama Cass Elliot (The Mamas & The Papas) e Mary Travers (Peter, Paul & Mary) cantando "I Shall Be Released", de Bob Dylan, em 1969.

Eu quero o vestido da Mary. AGORA!

Our House

Os Rolling Stones em Laurel Canyon

Joni Mitchell na janela de sua casa em Laurel Canyon, 1970

Laurel Canyon é uma região localizada em Los Angeles, California. Mais do que ter uma intersecção com a famosa estrada Mulholland, ela foi o palco principal da contracultura norte-americana dos anos 60.
O rock havia encontrado sua Meca. Lá moraram David Crosby, Mama Cass Elliot, Carole King, Jimi Hendrix, Graham Nash, Roger McGuinn, Jackson Browne... Foi lá que o Steppenwolf gravou seu "At Your Birthday's Party", no estúdio do Canned Heat. Bem próximo dali morava Joni Mitchell, que utilizou o nome da região no título de seu maravilhoso álbum Ladies Of The Canyon. O mesmo fez o guitarrista John Mayall, com seu Blues From Laurel Canyon, em 1968. É bem provável que, andando pelas ruas de Laurel Canyon nos anos 60, encontremos a groupie Pamela De Barres deixando a casa de Chris Hillman, baixista dos Byrds, às cinco da manhã, para chegar à casa de Frank Zappa, que morava perto dali. Quem sabe não vemos Neil Young saindo para comprar leite, ouvimos o som de mais um ensaio dos Stones saindo pelo porão da casa de Stephen Stills ou desejamos bom dia para Jim Morrison?

Espero que "Morning Morgantown" seja sobre a vida nesse lugar...

"When morning comes to morgantown
The merchants roll their awnings down
The milktrucks make their morning rounds
In morning, morgantown

We’ll rise up early, with the sun
To ride the bus while everyone is yawning
And the day is young
In morning, morgantown"

Joni Mitchell (1970)




Agosto de 1969

Woodstock, Nova York

terça-feira, 6 de abril de 2010

Hello, darling!

Audrey fazendo charminho numa das cenas iniciais de Bonequinha de Luxo

segunda-feira, 5 de abril de 2010

"Tlinta e Tlês"



Era tarde quente de domingo e mamãe e papai descansavam no sofá depois do almoço. Eu observava o tempo passar através da janela empoeirada da sala, sentada no banquinho de madeira feito pelo tio Petrônio. A campainha toca e eis que entram tia Mercedes e a prima Sandrinha. Engraçada, a prima Sandrinha. Ela tinha a minha idade e falava de um jeito estranho, trocando as letras. Fazia tudo o que a gente pedia.
Foi aí que tive uma ideia.
Quando a vi sentar-se na cadeira de vime para assistir ao filme do Jerry Lewis (O Professor Aloprado até hoje não me sai da cabeça), discretamente cheguei por trás e arrastei-a pela sala, com cadeira e tudo. Eu gritava: "Trinta e três! Carrinho de sorvete trinta e três!". A prima Sandrinha, assustada, só sabia falar: "Tlinta e tlês! Carrinho de picolé tlinta e tlês!" E eu continuava, já tonta por causa da correria: "Grita, prima Sandrinha! Trinta e três! Trinta e três!" Só se ouvia "Tlinta e tlês! Tlinta e tlês! Carrinho de picolé".

Nunca vou me esquecer de nossos rostos avermelhados e de minha saia rodando pelos corredores. O gato da vovó acordou assustado.

Mamãe me pôs de castigo. E a prima Sandrinha ganhou um sorvete para se acalmar. Não, foi um picolé.

sábado, 3 de abril de 2010

Fa Fa Fa Fa Fa Fa Fa



Olha a cara de joãzinho da Tina Weymouth! *-*

Acho que estou apaixonada pelo David Byrne...

Rock Dancers

Paul Newman e Joanne Woodward

sexta-feira, 2 de abril de 2010

California, I'm coming home...

Minha relação com essa música da Joni Mitchell é antiga. Lembro-me das vezes em que a ouvia sozinha na cozinha escura de minha avó (não, eu não tinha o vinil original. Era um cd baixado da internet!) quando tinha quinze anos. Eu me encolhia e vivia a canção.
Sempre fui daquelas que gostam não apenas de ouvir uma música, mas de imaginá-la, sentir o momento de sua composição para assim torná-la parte de minha vida. Ao ouvir California não foi diferente: eu me sentia em casa, quer seja sentada num banco de um parque de Paris, num ilha grega ou numa cidade da Espanha. Joni canta com um vigor tão forte, que as palavras não saem de sua boca, mas sim de sua alma. O início da música, leve e simples, acompanhado de uma letra que faz com que se queira aproveitar a vida de acordo com os desejos de cada um, faz de quem a ouve uma pessoa completa.

Eu poderia falar sobre essa música o dia inteiro. Ninguém melhor que Joni para apresentá-la:



Esse vídeo é de uma apresentação feita por ela em 1970, num especial para a BBC.
Joni se encontrava no auge da carreira, que iria se consolidar de forma definitiva no ano seguinte, quando lançaria o álbum Blue (!).

Percebi agora que, enquanto escrevia esse texto, ouvi California dezoito vezes seguidas...

Maio de 1944


Não parei de olhar para essa foto de Ralph Morse. É real: senti o calor dos ossos das mãos do casal, o cheiro do cabelo da moça, o frescor adocicado da grama verde (espero que seja verão), o vento que bagunçou os cabelos dos dois, o barulhinho surdo dos sentimentos entre os rostos.

O antes e o depois estão juntos em um momento. Ele pode não durar para sempre, mas está lá.

um

BEM AQUI

Para sentir o gosto do que tenho para mostrar