segunda-feira, 5 de abril de 2010

"Tlinta e Tlês"



Era tarde quente de domingo e mamãe e papai descansavam no sofá depois do almoço. Eu observava o tempo passar através da janela empoeirada da sala, sentada no banquinho de madeira feito pelo tio Petrônio. A campainha toca e eis que entram tia Mercedes e a prima Sandrinha. Engraçada, a prima Sandrinha. Ela tinha a minha idade e falava de um jeito estranho, trocando as letras. Fazia tudo o que a gente pedia.
Foi aí que tive uma ideia.
Quando a vi sentar-se na cadeira de vime para assistir ao filme do Jerry Lewis (O Professor Aloprado até hoje não me sai da cabeça), discretamente cheguei por trás e arrastei-a pela sala, com cadeira e tudo. Eu gritava: "Trinta e três! Carrinho de sorvete trinta e três!". A prima Sandrinha, assustada, só sabia falar: "Tlinta e tlês! Carrinho de picolé tlinta e tlês!" E eu continuava, já tonta por causa da correria: "Grita, prima Sandrinha! Trinta e três! Trinta e três!" Só se ouvia "Tlinta e tlês! Tlinta e tlês! Carrinho de picolé".

Nunca vou me esquecer de nossos rostos avermelhados e de minha saia rodando pelos corredores. O gato da vovó acordou assustado.

Mamãe me pôs de castigo. E a prima Sandrinha ganhou um sorvete para se acalmar. Não, foi um picolé.

Um comentário: