sábado, 31 de março de 2012

Cópias


E, de repente, você se dissolveu nas minhas lembranças diárias, na minha rotina morna e calma, às vezes apressada. Mas é tão difícil te perceber nela, já que eu também me misturo em tudo que vivo. É como aquele sal da água do mar, você nem sabe que está ali. Mas aí você abre os olhos sob a água e eles começam a arder.

Não digo que, ao te ver dissolvido em mim, você vá provar meus gostos ou seguir minhas palavras ditas no meu silêncio. Pelo contrário. A cada dia que passa, sua presença se torna tão transparente, natimorta e silenciosa, que todas as suas descobertas ou que te fazia sentir-se vivo e pulsante dentro de mim agora são meus segredos de segunda mão, aqueles que você diz para todo mundo, mas para você eles ainda são secretos, porque você quer guardá-los para garantir que eles sempre foram seus.

Eu tenho a cópia das chaves, nunca fiquei do lado de fora. Eu sorri, guardei esse sorriso por um tempo e depois eu descobri a resposta para o que me corroía os meses: "Eu seria a mesma se deixasse tudo isso para trás?". Essa é a minha vida e, mais uma vez, eu tenho a cópia das chaves.

Eu experimentei um pouco de dor por tudo que eu não consegui explicar, viver ou criar. E ainda sinto essa dor, mas não tão viva quanto estas palavras que me saltam da consciência. Mas dissolvida, transparente, silenciosa e natimorta na minha rotina morna e às vezes apressada, na minha rotina que me ajudou a juntar os pontos, as vírgulas e os travessões que me faltavam na fala e nas ações. Eu já consigo sentir o gosto da menta, os acordes das músicas que só me apareciam nos sonhos perturbados ou nas imagens inventadas.

Achei a cópia das chaves.

quinta-feira, 29 de março de 2012

In France

they kiss on main street

quinta-feira, 22 de março de 2012

E agora


eu sou a minha força, aquelas imagens embaçadas que me chegam preguiçosas quando tiro os óculos. Eu sou a minha cegueira, a dor intermitente, a minha saudação e a minha despedida.

eu sou a minha língua que encostou a neve, a minha boca que se desmanchou no gosto alvo de baunilha.

eu bato nas pérolas juntas à areia, eu espero jogarem fora meu último ovo de ouro

ou me apertarem e verem que dentro de mim só existem

praias

quinta-feira, 15 de março de 2012

Pelas rosas



Foram só sonhos, minha querida

Foram só sonhos e alarmes falsos

E eu tentei tanto, mas você não estava no meu sangue como vinho sagrado

Você não era meu pai, nem meu filho, meu amante ou minha dor e tristeza;

Eu me forcei, mas eu não me senti como se tivesse acabado de nascer

ou como um relâmpago que irrompe na tempestade.

Talvez eu nunca tenha realmente amado, eu passei minha vida inteira em nuvens de altitudes frias.

E eu só estava lá, querendo me sentir ouvida por canções de amor ou até podia ser pelo silêncio, pelo toque, pelo tato dos dedos sobre a minha pele fria

Mas eu estava lá, eu juro que estava. E eu sei que pareço ingrata com os dentes enterrados nas mãos, mas isso me traz coisas das quais ainda não posso desistir;

vou tomar um banho frio e tirar toda essa poeira do meu corpo mudo, sentir o cheiro e me ferir nessas rosas nunca enviadas, nessas rosas que são exatamente um alarme falso, o mesmo que eu não sabia que vivia até ele me ferir;

é assim que eu escondo a mágoa, enquanto a estrada segue bela e amaldiçoada;

e a minha vontade de ir. A minha vontade de sair e meu grito frio de triunfo.

terça-feira, 13 de março de 2012

Doigts (III)

só um pouco na superfície...

quinta-feira, 8 de março de 2012

Que eu seja doce


bem doce, bem doce, bem doce e amarga

porque desenhar e andar em linhas retas não me fazem querer provar o gosto escuro do sol de amanhã

sexta-feira, 2 de março de 2012

quinta-feira, 1 de março de 2012

Um dia como os outros

e tudo isso é minha raiva por não saber escrever sobre o que vejo.