segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Aplausos


Desde a primeira vez que ouvi uma música de Nick Drake (Fly) tento de certa forma ler o que se passa em sua mente. Minha curiosidade aumenta pelo fato de não haver nenhum registro em vídeo de Drake, apenas fotos e suas canções. Sempre o imaginei com alguém que vive dentro de si, com o sentido da vida entre as mãos e o gosto do que pode acontecer bem à sua frente. Murmúrios surdos de confissões ouvidas ao pé do ouvido, sons de súplicas que não puderam ser atendidas, um universo dentro de uma casca de noz: Nick Drake era um ser que só me existia nos sons, na voz suave de de quem ama e no olhar de quem quer dizer tudo, prestes a dizer o que se esconde entre os olhos.

Ele não me era humano. Ele se escondia na bruma, nos meus sonhos ternos, atrás de mim.

Foi quando me deparei com Tanworth-In-Arden, um bootleg italiano contendo algumas gravações caseiras de Drake feitas entre 1967 e 1968.

Don't Think Twice It's All Right estava bem ali. Começa tímida e baixa, e Drake até erra a letra. É cantada a murmúrios, quase como uma canção de ninar. O lamento triste de Dylan por Suze Rotolo se transforma em uma canção dominada pela preciosidade do adeus, da necessidade de se despedir do que já não mais nos pertence. A versão de Bob Dylan continua sendo minha favorita (!), mas é como se Drake passasse a existir para mim no momento que o ouvi cantar essa música.

Nessa hora eu tive certeza: ele podia sentir o que os outros sentiam, ele podia ouvir os que outros ouviam. Drake se materializou naquela gravação antiga, era ele no meio dos ruídos.

Nick Drake cantando Bob Dylan. Acho que ouvi aplausos.

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