domingo, 27 de fevereiro de 2011

The Other Side of Bob Dylan


Saber da morte de Suze Rotolo nessa última quinta-feira me tirou a única lembrança que pude ter de alguém que eu tinha certeza de que sua existência por aqui não foi em vão, um ser que há tempos eu admirava e via como um modelo de mulher que eu procurava seguir sempre que podia. A garota de rosto solar andando sobre a neve junto a Bob Dylan na antológica capa de The Freewheelin' Bob Dylan foi objeto da mais belas canções de amor a sair da caneta de Zimmerman: Don't Think Twice It's All Right, Tomorrow is a Long Time, To Ramona (minha favorita) e Boots Of Spanish Leather, só para citar algumas.

Suze era oriunda de uma família de ítalo-americanos de esquerda e vivia com a mãe Mary e a irmã Carla depois que seu pai morreu quando ela tinha catorze anos. Quando Bob a conheceu no verão de 1961, Suze trabalhava para o CORE (Congresso para a Igualdade Racial, na sigla em inglês), levava-o para reuniões na organização e falava-o a respeito do movimento pelos direitos civis que, naquele momento, ganhava cada vez mais adeptos pelos Estados Unidos. Dessa forma, Suze teve um papel fundamental no despertar político de Dylan que, até aquele momento, era apolítico e só tocava antigas canções folk tradicionais.

Suze tinha apenas dezessete anos quando começou a namorar Bob e a família dela não ficou nada feliz quando eles se mudaram para um minúsculo apartamento em Nova York, em janeiro de 1962. Apesar do desprezo da família Rotolo, Bob e Suze se adoravam. Ela o chamava de "Pig" e"Raz" (um apelido com as iniciais do nome dele), enquanto ele lhe escrevia longos poemas e até falava em casamento.

No verão de 1962, em parte numa tentativa de afastar a filha de Bob, Mary manda Suze para a Itália para estudar na Universidade de Perugia, deixando Dylan desolado e sofrendo de dor e ciúmes - ela havia conhecido o italiano Enzo Bartoccioli, que mais tarde seria seu marido. É dessa época que datam Don't Think Twice, It's All Right e Tomorrow is a Long Time.

Suze retornaria no ano seguinte e, poucas semanas depois, estava caminhando com Bob pela Jones Street para as fotos de The Freewheelin' Bob Dylan. Em sua autobiografia, ela diz:

"We walked the lenght of Jones Street facing West Fourth with Bleecker Street at our backs. In some outtakes it's obvious that we were freezing; certainly Bob was, in that thin jacket. But image was all. As for me, I was never asked to sign a release or paid anything. It never dawned on me to ask."

A crescente fama de Dylan estava prejudicando o relacionamento dos dois. Suze já não aguentava a pressão, as mentiras e as fofocas e se sentia perdida. Quando ouviu os rumores de que a relação entre Bob e Joan Baez havia se tornado mais que profissional, ela se mudou para o apartamento da irmã. Suze engravidou e teve um aborto, deteriorando ainda mais o relacionamento. Após uma terrível briga que também envolveu Carla, Suze separou-se de Dylan em março de 1964. A discussão está em todos os detalhes na infame canção Ballad in Plain D, lançada em Another Side Of Bob Dylan (1964). Mais tarde, ele pediu desculpas a Carla e Suze e admitiu que foi um erro gravá-la.

Suze viveu em Nova York a vida inteira, onde trabalhou como professora e pintora. Ela aparece no documentário de Martin Scorsese sobre Bob Dylan, No Direction Home (2005) e escreveu A Freewheelin' Time, um livro sobre sua trajetória nos anos 60 e, claro, os detalhes de seu relacionamento com Bob.

"I once loved a girl, her skin it was bronze,
With the innocence of a lamb, she was gentle like a fawn"
(Ballad in Plain D)

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