segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Canto de cisne


Vi grandes e pequenas obsessões tornarem-se realidade. Senti o gosto do sangue que rasga a pele e o bater forte das asas finas de penas negras. Vi o frio misturar-se ao quente, o desespero encontrar a dor e os desejos incontroláveis da perfeição chegarem ao encontro do medo.

Presenciei o crescimento e a transformação de uma personalidade, para enfim cair no chão olhando o vermelho entre as unhas. Senti o pânico tomar presença, o som forte que ecoa fora da realidade. Sonhos não existem, o que há entre os atos é febre fria que percorre a medula, os olhos vermelhos que brilham no meio do espelho partido, a identidade que se mistura às ilusões.

E tudo girava. Girava. Girava. Onde eu estava? Gire, gire, gire!

Senti sobre a língua o gosto venenoso das imagens passadas entre sonhos que ainda não foram sonhados, entre fendas escuras do que eu nem mais conhecia. Eu via lapsos de ideias junto aos fragmentos dos pés que já sangravam na seda cor-de-rosa, os gritos mudos na delicadeza de uma princesinha.

Eu vi alguém roubar a própria voz, os únicos movimentos, a própria alma. Vi o preto misturar-se ao branco, o olhar cansado à ação pura, movimentada, perfeita, natural e fingida, todos eles juntos em imagens desesperadas e perturbadoras.

Vi o Diabo ser preso para depois ser solto, mãos em desequilíbrio com o ar rarefeito, flores partidas, pernas quebradas, um salto para a eternidade.

E no final disso tudo? She was perfect.


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