sexta-feira, 11 de março de 2011

broken scene


Cheiro de chuva velha nas madrugadas dos lábios entre os dentes, desenhos animados manchados de amarelo e laranja, uma sala sem relógio e com os olhos ardentes pintados de vermelho no escuro.

Pessoas nos seus terninhos engomados e comendo suas pérolas no almoço, cabelinhos alisados e cheirando a perfume comprado na esquina, aquele sonho falso de que o universo foi feito para aqueles que sofrem, todo mundo viaja de primeira classe, por favor, circulem a minha alma!

Jogaram fora aquelas notas bobas escritas com canetas cor-de-rosa em papeizinhos de caderno velho enterrado na última gaveta do armário, eu chutei um castelo de areia na cara e na boca do Inferno, meu nome nem vai estar no jornal ou uma tela gigante de fundo enferrujado.

A arrogância saindo de poros quentes de soberba feia, olhos de lua cheia que chegam a ser tristes de tão ridículos, o mapa da minha trajetória de mentira desenhado atrás do caminho dos outros, vamos encarar as circunstâncias.

Olhos e pele e ossos e cílios e lábios presos numa jaula fria solta no meio da estrada, uma prisioneira solta debaixo de lentes grossas de hipocrisia fingida em noites de quarta-feira. Era o meu ego desenhado na poeira amarela na janela do meu quarto sem cor.

E aquela tontura delirante que vem o aroma doce do sucesso imaginado? Sucesso que dura oito minutos, quatro dias, dois meses, a embriaguez que fica longe, a ilusão que fica perto, a regra do jogo que fica por trás do leque de quem finge viver, the last of true believers.

Eu matei um cordeiro e tomei seu sangue só para pra provar que a cor do meu não era igual à dele. Usei o cobertor velho para molhar na chuva verde, preta, azul, lilás, de cor nenhuma. Quem sabe quando amanhecer eu acho o meu blues no telhado?

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