sexta-feira, 18 de março de 2011

don't interrupt the sorrow

Death and birth death and birth death and birth

Debris (II)


antes sozinha que carregar olhos fundos cheios de esperança fria.

Senti hoje na pele a dificuldade de crescer, de estar num nível acima do que você deseja, de enxergar o que não se pode ver pelos lados. Vi minhas unhas sujas misturadas à tinta azul e ao suor desesperado, o tempo contado em segundos, os 60 minutos em dois pés de unhas roxas.

E não dá tempo de sonhar, de viver mentiras, de levar tapa na cara ou encher a cabeça de ondas perversas de sons invisíveis. Não dá tempo de formar ideias, de chorar pelo que não aconteceu, de fazer escolhas estúpidas para no fim cair no buraco da mediocridade.

e o que eu chamo de um copo cheio até as bordas nem começou.

domingo, 13 de março de 2011

Big Sur, 1969

John Sebastian, Graham Nash, Joni Mitchell, David Crosby e Stephen Stills no Big Sur Folk Festival, 1969

Só queria estar nessa plateia queimando os cabelos no sol e cantando Get Together! Por favor, enterrem meu coração na curva do rio! : (

sexta-feira, 11 de março de 2011

broken scene


Cheiro de chuva velha nas madrugadas dos lábios entre os dentes, desenhos animados manchados de amarelo e laranja, uma sala sem relógio e com os olhos ardentes pintados de vermelho no escuro.

Pessoas nos seus terninhos engomados e comendo suas pérolas no almoço, cabelinhos alisados e cheirando a perfume comprado na esquina, aquele sonho falso de que o universo foi feito para aqueles que sofrem, todo mundo viaja de primeira classe, por favor, circulem a minha alma!

Jogaram fora aquelas notas bobas escritas com canetas cor-de-rosa em papeizinhos de caderno velho enterrado na última gaveta do armário, eu chutei um castelo de areia na cara e na boca do Inferno, meu nome nem vai estar no jornal ou uma tela gigante de fundo enferrujado.

A arrogância saindo de poros quentes de soberba feia, olhos de lua cheia que chegam a ser tristes de tão ridículos, o mapa da minha trajetória de mentira desenhado atrás do caminho dos outros, vamos encarar as circunstâncias.

Olhos e pele e ossos e cílios e lábios presos numa jaula fria solta no meio da estrada, uma prisioneira solta debaixo de lentes grossas de hipocrisia fingida em noites de quarta-feira. Era o meu ego desenhado na poeira amarela na janela do meu quarto sem cor.

E aquela tontura delirante que vem o aroma doce do sucesso imaginado? Sucesso que dura oito minutos, quatro dias, dois meses, a embriaguez que fica longe, a ilusão que fica perto, a regra do jogo que fica por trás do leque de quem finge viver, the last of true believers.

Eu matei um cordeiro e tomei seu sangue só para pra provar que a cor do meu não era igual à dele. Usei o cobertor velho para molhar na chuva verde, preta, azul, lilás, de cor nenhuma. Quem sabe quando amanhecer eu acho o meu blues no telhado?

quarta-feira, 9 de março de 2011

Help Me



No dia que eu me cansar de postar vídeos da Joni, eu largo tudo e vou viver como eremita no deserto de Gobi!

Adoro a forma que ela canta essa música: às vezes as palavras saem tão rápidas que dá pra ouvir sua respiração louca entre as letras no ritmo forte de uma melodia nada pretensiosa.

I'm in trouble
'Cause you're a rambler and a gambler
And a sweet taIking ladies man
And you love your lovin'
But not like you love your freedom

LINDO.

terça-feira, 8 de março de 2011

Wanderlust


eu nunca pedi para ser sua montanha.

Foi no minuto que a gente ouviu aquela canção misteriosa que fez as borboletas balançarem dentro do nosso estômago, o gosto metálico do que nunca pudemos ter pedindo para sair nos gritos mudos que só a gente ouvia.

Ferimos os pés em cercas de arame farpado, escrevemos textos absurdos com spray lilás nas asas de uma borboleta, desejamos que o dia se dissipasse só para ver o próximo chegar;

E a gente nem se lembrava muito um do outro: eu sabia que todo o meu sofrimento corria solto sobre seus joelhos na luz daquela festa que só existia na sua cabeça;

Eu me lembro daqueles últimos quinze minutos passados num fone de ouvido, 46 discos em músicas de um minuto, a graça e a ansiedade pelo que vinha a seguir. Hahaha, Music From Big Pink e Blood On The Tracks ainda estão na minha cabeça como fotos quentes tiradas ao meio-dia. Várias mãos nos empurrando para fora, aquele riso idiota que vem nas situações mais inesperadas.

E eu abracei o que já era inevitável numa fúria bêbada vestida em blusa vermelho-sangue, os lapsos me atropelando em visões cinzas que eu só tocava depois que o branco desapareceu da minha retina embaçada de orgulho ferido.

eu nunca pedi para ser sua montanha.

Eu nunca achei que fosse fácil ser corajosa, como quando descobri o gosto da adoração e tudo o que me trouxeram foram espadas, martelos e agulhas. "A woman must have everything", não é assim que eles dizem?

E sim, eu achava que parecia ingrata com meus dentes enterrados nas mãos, mas isso era só para me lembrar do que eu ainda não conseguia desistir.

A gente não compartilhou nada, não viveu nada, não formou uma palavra de catorze letras ou viu as cordas daquele baixo nunca comprado. E eu sabia que, durante todo esse tempo, minha alma permanecia presa numa caixa vagabunda debaixo da cama.

Eu nunca contei meus desafios ou minhas vitórias numa sombra de conquistas de cor escarlate.

Eu nunca me curvei diante das possibilidades abertas na palma da minha mão.

eu nunca pedi para ser sua montanha. Nunca.
(1979)

segunda-feira, 7 de março de 2011