quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Doigts


Frio entre os pés, gosto de bebida amarga, de bala de menta fresca;

Cheiro de mar furioso, de gota de chuva sobre as lentes, de perigo envolvido em expectativas, frias expectativas;

Dor nos espaços que estavam ali, sono, vontade de explodir o céu só para não ter que olhar para cima;

Eu me vesti para o sucesso, mas o sucesso nunca veio. De repente, era só eu quem ria das piadas, quem esperava em um lugar que eu imaginava ser o começo, mas que na verdade era o fim;

Mãos duras, olhos que não tinham cor, uma alma que não se movia;

Eu me juntei numa ação incontrolável, vivi meus melhores momentos de forma aleatória, acho que isso era o melhor que eu sabia fazer;

E os dedos imóveis sobre uma superfície invisível, uma blusa cor-de-rosa, total indiferença nos movimentos já programados;

E as piadas eram tão ruins. Tão ruins.

Vou manejar o fogo com varetas e trancar o inverno vagabundo num pote de vidro;

Vou embrulhar lembranças que não passam de diamantes e ferrugem em papel firme e jogá-las no limite entre a mentira e a verdade;

E eu tinha pressa enorme de ir embora.

(1971)

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