quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Terra Estrangeira



Nós só tínhamos uma noite. Eu pegaria meu avião no dia seguinte e ele teria que encontrar o irmão para um compromisso bem cedo. Éramos dois estrangeiros numa terra estrangeira: eu nunca havia estado no Rio de Janeiro antes e ele, americano da Califórnia, mal sabia arranhar um português na sua estadia de dois meses no País.

Tentamos utilizar aquelas poucas horas das maneiras mais espontâneas possíveis. Eram piadas e aulas tortas de português e inglês que se perdiam embriagadas nos nossos beijos manchados do meu batom vermelho e que tinham gosto de cerveja e de uma curiosidade que só foi parcialmente saciada quando nos encontramos no prazer que é estar no limite do amor físico.

Dançamos à três da manhã na calçada da Praia de Copacabana, nos abraçamos apertados dentro de um casaco minúsculo observando o nascer do sol
na areia. Falamos de nossos países, do que partia nossos corações, das músicas que adorávamos. 

"I want to know your secrets", ele me disse

"You'll have to find that by yourself", respondi.

E foi tudo tão rápido, natural, sem amarras, gestos e movimentos que aconteciam ao mínimo toque das nossas vontades.

Eu não quis trocar fotos, e-mails, facebook ou algo do tipo. Pra quê? Parecia que aquele momento só seria eterno enquanto estivesse preso à minha memória, àquela noite, sem prolongamentos, sem continuações. 

Ele é do tipo que acredita em destino, mas agora começo a fazer as pazes com a realidade e as ideias fortes de desapego, deixar ir, fluir, acontecer... Pela primeira vez, por incrível que pareça, eu vivi.

Lembrei-me agora de uma entrevista com a Elizabeth Bishop em que perguntaram se ela já se via como escritora desde jovem. "Não, tudo acontece sem que você pense a respeito. Eu nunca quis ir para o Brasil. Nunca tive intenção de fazer nenhuma dessas coisas. Acho que tudo simplesmente aconteceu."

Paremos de pensar nisso, então.

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