quinta-feira, 26 de abril de 2012

Stand Back


é com o vestido claro afogado na água fria

com a cera do batom vermelho misturado à saliva

e o calor que me confunde os cabelos no pescoço

que digo que você ainda não saiu de mim - o que quer ou quem quer que seja

e eu constato isso nos meus momentos mais sagrados - nas palavras dos meus livros favoritos, nas notas das minhas canções que enchem o meu quarto ou nos longos minutos sentados perto de mim em mais uma das minhas viagens em ônibus tão cheios, mas tão vazios que me levam a intervalos de quatro horas de pura insatisfação;

será que você pode me dizer o que ainda nos une? Ou o que nos separou? Porque eu só consigo enxergar imagens embaçadas nos meus sonhos perturbados, um daqueles em que a gente se perdia, mas eu era a unica que tentava te encontrar, mas nunca te via;

eu acordei com a angústia no lugar do cobertor e, nessa hora, meu corpo estava azul, blue, bleu;

ainda te vejo nas minhas horas mais tristes, nas minhas horas mais felizes

no meu sono intranquilo

mas eu só te peço para ficar para trás, volte para onde veio, não tente se mover

quem sabe só assim EU volto para onde vim

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Aprendendo a viver


"Quero dizer, o poder de viver uma vida completa, adulta, uma vida que aspire ao contato mais estreito com o que eu amo - a terra e as maravilhas que nela existem - o mar - o sol - ... .... depois eu quero trabalhar. Em quê? Eu quero tanto viver, que eu trabalho com as minhas mãos e os meus sentimentos e meu cérebro. Eu quero um jardim, uma pequena casa, grama, animais, livros, quadros, música."

Katherine Mansfield

sábado, 14 de abril de 2012

Doisneau, Paris e o Amor









Os grandes amores são fortes. Os grandes amores são testemunhas do fim do que não deveria ser, o júbilo imerso no abismo do inconsciente.

Os grandes amores são altos, os corações que caminham na descoberta do mundo.

Os grandes amores se distribuem em suspiros abafados, palavras curtas, adeus e saudações, crônicas de vidas anunciadas;

Os grandes amores carregam o humor do verão, as carícias cortantes do inverno, a força e também a fragilidade de uma primavera. Mas nunca a efemeridade de um outono.

Os grandes amores te roubam a consciência do estar no mundo, devolvem o aviso silente das horas preenchidas em mãos fechadas. 

Os grandes amores são estados de graça.

sábado, 7 de abril de 2012

full and hollow

Talvez eu tentasse conhecer meus medos antes de enfrentá-los


Pelo menos uma vez na minha vida

terça-feira, 3 de abril de 2012

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Vou deixar o ofício de escrever para aqueles que o dominam;

Abstenho-me de qualquer tentativa;

Depois de uma noite de muita insônia, percebi muito tarde que só nasci para contemplar;

Contemplar e viver dessa contemplação.


Ainda me restam dois meses de alegria disfarçada.

sábado, 31 de março de 2012

Cópias


E, de repente, você se dissolveu nas minhas lembranças diárias, na minha rotina morna e calma, às vezes apressada. Mas é tão difícil te perceber nela, já que eu também me misturo em tudo que vivo. É como aquele sal da água do mar, você nem sabe que está ali. Mas aí você abre os olhos sob a água e eles começam a arder.

Não digo que, ao te ver dissolvido em mim, você vá provar meus gostos ou seguir minhas palavras ditas no meu silêncio. Pelo contrário. A cada dia que passa, sua presença se torna tão transparente, natimorta e silenciosa, que todas as suas descobertas ou que te fazia sentir-se vivo e pulsante dentro de mim agora são meus segredos de segunda mão, aqueles que você diz para todo mundo, mas para você eles ainda são secretos, porque você quer guardá-los para garantir que eles sempre foram seus.

Eu tenho a cópia das chaves, nunca fiquei do lado de fora. Eu sorri, guardei esse sorriso por um tempo e depois eu descobri a resposta para o que me corroía os meses: "Eu seria a mesma se deixasse tudo isso para trás?". Essa é a minha vida e, mais uma vez, eu tenho a cópia das chaves.

Eu experimentei um pouco de dor por tudo que eu não consegui explicar, viver ou criar. E ainda sinto essa dor, mas não tão viva quanto estas palavras que me saltam da consciência. Mas dissolvida, transparente, silenciosa e natimorta na minha rotina morna e às vezes apressada, na minha rotina que me ajudou a juntar os pontos, as vírgulas e os travessões que me faltavam na fala e nas ações. Eu já consigo sentir o gosto da menta, os acordes das músicas que só me apareciam nos sonhos perturbados ou nas imagens inventadas.

Achei a cópia das chaves.