segunda-feira, 30 de abril de 2012

Sal de prata


Sabe qual a minha maior vontade neste momento?

Passar um domingo inteiro na praia. Seria cedinho, até lavaria os cabelos antes. Tomaria uma xícara de chá preto com duas bolachas e sairia antes do sono me levar. E comigo iria um disco do Best Coast e um soul do Ottis Redding.

Eu demoraria um pouco para entrar no oceano, só para sentir o calor do sol na minha pele. Daí eu me levantaria e andava devagar até a água. Ficava lá um bom tempo, porque o mar me faz pensar nas coisas que nem consigo lembrar quando estou na terra. Ia mais fundo, até onde meus pés pudessem alcançar e mergulhava para sentir aquele sal nos cabelos e no corpo.

(É importante observar que, muito embora a maioria vai à praia com alguém, também é bom ir sozinho, principalmente na hora de capturar as ondas.)

Eu sairia da água com os cabelos duros de tanto sódio, a boca cortada de espumas - mas a minha parte que atormenta, que machuca e chora ficaria afogada bem no fundo, bem no fundo do oceano.

Quando fosse o momento de chegar em casa, eu comeria com a fome dos que pedem amor, porque o mar te faz sentir-se assim, apaixonado, nem que seja por nada. Mas antes tomaria banho de água doce, beberia essa água e sentiria o doce misturar-se ao salgado do mar da minha boca, como o açúcar que se dissolve na língua depois que a gente prova uma torta de canela e maçã.

E, por fim, eu teria um sono misturado a lençóis com o mesmo cheiro do meu hidratante de manga e laranja, mesmo sentindo os músculos mergulhados na água. Alguém aí já teve a sensação de, depois de sair do mar, anda achar que está dentro dele? Porque eu ainda consigo sentir as ondas se mexerem perto do meu travesseiro...

Eu acordaria na segunda-feira com os cabelos cheirando a sal e iria para a aula ainda com os olhos ardidos, o algodão da roupa tocando as conchas nos bolsos.

 Tudo isso para querer voltar, mais uma vez, para o mar.

Um comentário:

  1. Ler este belo texto apenas me fez fechar os olhos e me lembrar da sensação de eu e natureza sermos apenas um só quando ponho meu pé na areia fofa e sinto as espumas brancas, que sempre são retas, tornarem-se tortuosas por entre meus dedos sob um instantâneo choque térmico.

    E, claro, não posso esquecer de Dorival Caymmi:

    "A onda do mar leva
    A onda do mar traz
    Quem vem pra beira da praia, meu bem
    Nunca mais quer voltar."

    "O pescador tem dois amor
    Um bem na terra, um bem no mar
    O bem de terra é aquela que fica
    O bem do mar é o mar, é o mar."

    "Nas ondas verdes do mar meu bem
    Ele se foi afogar
    Fez sua cama de noivo
    No colo de Iemanjá
    É doce morrer no mar."

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