Passar um domingo inteiro na praia. Seria cedinho, até lavaria os cabelos antes. Tomaria uma xícara de chá preto com duas bolachas e sairia antes do sono me levar. E comigo iria um disco do Best Coast e um soul do Ottis Redding.
Eu demoraria um pouco para entrar no oceano, só para sentir o calor do sol na minha pele. Daí eu me levantaria e andava devagar até a água. Ficava lá um bom tempo, porque o mar me faz pensar nas coisas que nem consigo lembrar quando estou na terra. Ia mais fundo, até onde meus pés pudessem alcançar e mergulhava para sentir aquele sal nos cabelos e no corpo.
(É importante observar que, muito embora a maioria vai à praia com alguém, também é bom ir sozinho, principalmente na hora de capturar as ondas.)
Eu sairia da água com os cabelos duros de tanto sódio, a boca cortada de espumas - mas a minha parte que atormenta, que machuca e chora ficaria afogada bem no fundo, bem no fundo do oceano.
Quando fosse o momento de chegar em casa, eu comeria com a fome dos que pedem amor, porque o mar te faz sentir-se assim, apaixonado, nem que seja por nada. Mas antes tomaria banho de água doce, beberia essa água e sentiria o doce misturar-se ao salgado do mar da minha boca, como o açúcar que se dissolve na língua depois que a gente prova uma torta de canela e maçã.
E, por fim, eu teria um sono misturado a lençóis com o mesmo cheiro do meu hidratante de manga e laranja, mesmo sentindo os músculos mergulhados na água. Alguém aí já teve a sensação de, depois de sair do mar, anda achar que está dentro dele? Porque eu ainda consigo sentir as ondas se mexerem perto do meu travesseiro...
Eu acordaria na segunda-feira com os cabelos cheirando a sal e iria para a aula ainda com os olhos ardidos, o algodão da roupa tocando as conchas nos bolsos.
Tudo isso para querer voltar, mais uma vez, para o mar.