sexta-feira, 29 de abril de 2011
quarta-feira, 27 de abril de 2011
Colheita
E nem olhava para a cara de quem a segurava. Dormia num quarto separado, quando na verdade eram eles eram mais que um;
Escondida na concha vazia, já ouvia aquelas palavras agora pronunciadas sem uma cor que as definisse, frases que juntassem os sentidos em lapsos de segundos trancados em seis lugares invisíveis;
O pescoço quente e frio, o chocolate engolido à força em colheres presentes a cada cinco minutos, o corpo inerte em peso morto de aurora;
e eu tateava o teto, soltava as mãos, ouvia o silêncio preenchido com palavras absurdas deitadas em cansaço e decepção. Quem ali conhecia a verdade? Quem ali sabia o que estava fingindo?
Peça para eles pularem mais alto, viverem mais décadas, pararem de se importar.
Beijei a cova com a cabeça dentro d'água. E tudo ainda continua a esquentar.
O pescoço quente e frio, o chocolate engolido à força em colheres presentes a cada cinco minutos, o corpo inerte em peso morto de aurora;
e eu tateava o teto, soltava as mãos, ouvia o silêncio preenchido com palavras absurdas deitadas em cansaço e decepção. Quem ali conhecia a verdade? Quem ali sabia o que estava fingindo?
Peça para eles pularem mais alto, viverem mais décadas, pararem de se importar.
Beijei a cova com a cabeça dentro d'água. E tudo ainda continua a esquentar.
domingo, 24 de abril de 2011
Lots of laughs
Chega aquele momento ridículo em que você acredita que já é tarde demais para fazer as decisões corretas. O que fica mais claro - e machuca e queima - é que a porcaria da sua alma não consegue mover-se sozinha como antigamente, que você já não consegue andar com suas próprias e raras experiências vividas bem próximas à ilusão que é doce para você, mas inteiramente amarga para os outros.
"Prenda-me no cais morto ou deixe-me navegar sozinho, por favor" é o que todo mundo diz para si mesmo quando a visão está adormecida na sua consciência empoeirada, uma sensação presa ao corpo que só reage ao som de risadas falsas e belas mentiras.
Escondi meus sapatos debaixo da cama e o batom vermelho dentro da bolsa. É difícil fazer milagres, muita gente desiste antes que eles aconteçam. Talvez já seja algo, não?
quinta-feira, 21 de abril de 2011
Especulações
Quando eu tinha cinco anos, acontecia de chover no final de semana que eu passava com minha avó. Naquela época, eu não sabia o que era um trovão e, toda vez que eu ouvia um, imaginava uma grande geladeira amarela derrubada por um gigante de blusa azul no céu frio. Quando eu perguntava à minha avó o que era aquele barulho tão forte, ela só ria e depois concordava com minha suposição a respeito do gigante e da geladeira.
Ninguém me avisou que o céu podia cair sobre nossas cabeças. Acho que foi por causa disso que minha avó não me disse nada a respeito dos trovões, talvez ela já soubesse que a gente não podia ter medo do inevitável ou do que se esconde por trás de nossa felicidade ferida. Descobrir o que eu já devia saber não me deixou atrás dos outros, só aumentou minha vontade de olhar para dentro.
Mas se dentro a gente não tem nada!
Ninguém me avisou que o céu podia cair sobre nossas cabeças. Acho que foi por causa disso que minha avó não me disse nada a respeito dos trovões, talvez ela já soubesse que a gente não podia ter medo do inevitável ou do que se esconde por trás de nossa felicidade ferida. Descobrir o que eu já devia saber não me deixou atrás dos outros, só aumentou minha vontade de olhar para dentro.
Mas se dentro a gente não tem nada!
Quarta-feira, quatro da manhã
Numa fila antes de amanhecer com os Pretenders, uma garrafa d'água e um livro do Julio Cortázar.
Posso repetir?
Posso repetir?
quarta-feira, 20 de abril de 2011
Tá decidido
Talvez eu vá pra Amsterdã
Talvez eu vá pra Roma
Daí eu vou alugar um piano enorme
E colocar flores em todo o meu quarto
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segunda-feira, 18 de abril de 2011
Nada
Parece que tudo correu tão bem hoje. Choveu demais, sujei os pés na lama, não pensei no futuro. Tirei o peso das costas, vi as ruínas na água suja das calçadas, assisti a partes de O Poderoso Chefão Parte II e cheguei atrasada na aula da tarde porque só sairia de casa quando o Robert De Niro aparecesse - o que levou mais de quarenta minutos.
Passei o dia de cabelo preso num coque alto, as bochechas cheias de blush cor-de-rosa. Comi quatro barrinhas de chocolate no trabalho, cheguei mais cedo só para conversar sobre o Frank Sinatra e o Martin Scorsese com um amigo enquanto comia Fandangos de queijo. Tirei uma foto com orelhas de coelho branco desejando comer o quinto chocolate do dia.
Antes de tudo isso, acordei às cinco da manhã pensando no William Faulkner e em qual música eu iria ouvir naquela hora. Quando voltei para casa, dormi achando que só assim a chuva não pararia até que eu conseguisse levantar novamente. Antes de sair para a aula, comi pizza de canela com banana frita como almoço morrendo de inveja da Diane Keaton por ela ter tido um filho com o Al Pacino e eu não - o que o ciúme não faz, né?
Adorei usar meu guarda-chuva amarelo durante todo o dia, minha blusa branca favorita cheirando a alvejante fresco às duas da tarde. Saindo da aula, pensei no quanto eu mereceria uma viagem para a Europa só para tentar ver o Louvre inteiro em seis horas - e, claro, correr pelos corredores de mãos dadas com dois estranhos.
O que desejo agora é ouvir o Neil Young cantar country rock. Era só disso que eu precisava quando acordei essa manhã!
Mea Culpa
domingo, 17 de abril de 2011
Cor: azul
Tive um sonho tão bobo nessa última tarde. Não, na verdade foram sonhos dentro de sonhos, uma massa amorfa que ainda está presa no meu inconsciente confuso. Enfim, num desses sonhos minha mãe entra no meu quarto, me acorda e diz que a Joni Mitchell está na sala, quer pintar um quadro e falar comigo. Comecei a chorar e a tremer, pus as mãos no rosto e senti o cheiro do shampoo nos meus cabelos lavados na noite anterior.
Levantei e comecei a escolher qual disco dela eu levaria para ser autografado. (Por incrível que pareça, no sonho eu tinha todos, quando, na realidade, o único disco original que eu tenho é o Hejira.) Escolhi o Clouds, The Hissing Of Summer Lawns e o Shine. Esse último eu nem sabia que tinha, encontrei debaixo de um disco do Neil Young (?).
Eu me lembro até das perguntas que eu faria: "Pra quem você escreveu Woman Of Heart and Mind? My Old Man era pro Graham Nash? E Raised On Robbery? Adorei o fato dessa música ter sido escolhida como single!"
Corri para o corredor, mas minha mãe disse que ela já tinha ido embora. Demorei demais pensando no que poderia acontecer. Tudo que me lembro era da jaqueta jeans azul clara que a Joni estaria usando, da franja em sua testa e do seu batom vermelho. As únicas coisas que me ficaram foram o cheiro de cigarro sobre o sofá e a xícara de café vazia com dois pincéis sujos de tinta azul.
Depois disso, chegaram sonhos atrás de sonhos, eu chorava, ria, sentia calor e frio, começava e terminava, vivia e morria, acordava para depois dormir de novo. Num deles, fui à biblioteca do meu antigo colégio, aluguei uma biografia gasta da Clarice Lispector, quatro livros velhos sobre a Sylvia Plath e ainda tentei levar um CD do Crosby & Nash que eu nunca tinha visto (não, ele não existe!), mas não consegui.
Nem sei, mas acho que esses sonhos vieram para me falar da natureza das minhas escolhas, dos sentimentos loucos que tomam conta de mim quando me atrevo a guardar meus medos e problemas no lugar de tirá-los do meu caminho, de continuar o que havia parado, de correr riscos, de cair cega, surda e muda. Eu ampliei minha sensibilidade.
Eu me lembro até das perguntas que eu faria: "Pra quem você escreveu Woman Of Heart and Mind? My Old Man era pro Graham Nash? E Raised On Robbery? Adorei o fato dessa música ter sido escolhida como single!"
Corri para o corredor, mas minha mãe disse que ela já tinha ido embora. Demorei demais pensando no que poderia acontecer. Tudo que me lembro era da jaqueta jeans azul clara que a Joni estaria usando, da franja em sua testa e do seu batom vermelho. As únicas coisas que me ficaram foram o cheiro de cigarro sobre o sofá e a xícara de café vazia com dois pincéis sujos de tinta azul.
Depois disso, chegaram sonhos atrás de sonhos, eu chorava, ria, sentia calor e frio, começava e terminava, vivia e morria, acordava para depois dormir de novo. Num deles, fui à biblioteca do meu antigo colégio, aluguei uma biografia gasta da Clarice Lispector, quatro livros velhos sobre a Sylvia Plath e ainda tentei levar um CD do Crosby & Nash que eu nunca tinha visto (não, ele não existe!), mas não consegui.
Nem sei, mas acho que esses sonhos vieram para me falar da natureza das minhas escolhas, dos sentimentos loucos que tomam conta de mim quando me atrevo a guardar meus medos e problemas no lugar de tirá-los do meu caminho, de continuar o que havia parado, de correr riscos, de cair cega, surda e muda. Eu ampliei minha sensibilidade.
sábado, 16 de abril de 2011
Fé cega
“I excluded this enemy from all the others. It was my first love. I couldn’t see any difference at all now between his body and mine. All I could see was an extraordinary similarity between his body and mine. His body had become mine. I was no longer capable of distinguishing it. I had become the living denial of reason. And how I would have swept aside all the good reasons they might have given as arguments against my lack of reason. Swept them aside like so many houses made of cards. Yes, like so many imaginary reasons. And may those who have known what it means to lose control of themselves throw the first stone at me. My only allegiance was to love itself.”
Anotações de Marguerite Duras no roteiro de "Hiroshima Meu Amor", de Alain Resnais (1959)
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Marguerite Duras
quinta-feira, 14 de abril de 2011
Cinco minutos
Joguei os sonhos feitos debaixo da mangueira numa lata de lixo, prendi o vapor dos momentos passados a ferro e perfume frio de lavanda sem cor num pote de vidro com pimenta verde;
Ceguei os olhos do meu cavalo branco com a lâmina escondida sob os cobertores, uma ânsia desenfreada de prender os segundos entre as mãos, é tão fácil fazer os outros desaparecerem!
Ninguém tem pressa de viver. Ninguém tem pressa de ver o que ultrapassa o limite do que não se pode ter.
quarta-feira, 6 de abril de 2011
Nem olho para trás
terça-feira, 5 de abril de 2011
So long
Escrevendo nada só pela possibilidade de já ser terça-feira e tudo que eu quero agora é uma canção como pedido. Pedido de qualquer coisa, que seja para mudar meus modos, meu interior derretido de remédios amargos e doces ou o tempo que só existe na minha cabeça.
Sail on, silver girl
Pensando nos muros antigos da escola, nas colagens de revistas velhas na mesa da aula de quatro horas da tarde (mordi os lábios de alegria quando vi anotadas as despesas de uma viagem de Frida Kahlo e Diego Rivera na lateral esquerda da madeira velha), a semana está só começando e eu só penso na ponte sobre a água turbulenta, em perfume dos outros que se mistura ao meu e no caminho opaco formado não de sete, mas de quatro escolhas feitas na ânsia cega de estender-se no conforto de uma vida sem preocupações com o conteúdo dos papeis a serem escritos para o dia seguinte.
Sail on by
Vou andar na areia e procurar diamantes nas solas dos meus sapatos
Uma canção como pedido:
Sail on by
Vou andar na areia e procurar diamantes nas solas dos meus sapatos
Uma canção como pedido:
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Simon Garfunkel
domingo, 3 de abril de 2011
Les Amants (1958)
O filme causou frisson na época de lançamento.
Legendas não são necessárias. Louis Malle fez muito bem a lição de casa.
Atenção à trilha sonora.
Lindo.
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sábado, 2 de abril de 2011
Just Like This Train
I used to count lovers like railroad cars
I counted them on my side
Lately I don't count on nothing
I just let things slide
I counted them on my side
Lately I don't count on nothing
I just let things slide
E no final eu achei esse banco vazio numa sala de espera cheia de gente (Todo mundo esperando).
Ah, eu não consigo achar minha bondade, não consigo achar minha bondade, você não consegue achar sua bondade, porque eu perdi meu coração, ah, uvas azedas, porque eu perdi meu coração.
Cada um conta com a curva dos ombros e com o cheiro quente do creme de hortelã sobre a pele só para descobrir que seu sangue é de whisky barato.
Pus meu vestidinho branco só para disfarçar.
ná.
Ah, eu não consigo achar minha bondade, não consigo achar minha bondade, você não consegue achar sua bondade, porque eu perdi meu coração, ah, uvas azedas, porque eu perdi meu coração.
Cada um conta com a curva dos ombros e com o cheiro quente do creme de hortelã sobre a pele só para descobrir que seu sangue é de whisky barato.
Pus meu vestidinho branco só para disfarçar.
ná.
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