Esses tempos de ficar em casa, olhando para os livros e tentando enxergar os meus desejos só me fazem sentir mais presente e materializada dentro das minhas próprias dúvidas. Às vezes acho que pareço imóvel diante de lembranças que ainda me atormentam num tempo passado, mas não é assim que devemos nos sentir quando o que passou ainda insiste em batalhar contra nós?
Não sei, é tudo tão bom para ser esquecido, mas lidar com a perda nos torna mais fortes, mais ricos e, sim, mais humanos. Foi como num filme que assisti, o presente me deixa mais viva, me traz mais surpresas, tanto pode ser infinito como pode acabar amanhã...
Ok, aquela sensação de "anjos bêbados", aqueles que se embriagam com o que já tiveram ou com o que nunca terão é poderosa, mas triste. Além do mais, viver entre o concreto e a cerca elétrica tem lá suas vantagens...
Enquanto nada desaparece, encontro o melhor remédio nas minhas flores e nos meus discos, outra forma de embriaguez, mas desta vez sólida e nada perigosa. Com a corrente no pescoço ou não, a verdade é que estudar as palavras que saem de uma canção é a melhor terapia para tempos "abençoados" como esses...
na medida que lia, me lembrava de uma poesia (muito verdadeira) de Castro Alves, datada em 10 de abril de 1871, intitulada como "Versos Para Música".
ResponderExcluir"INGRATA! E fazes milagres...
E não crês em ti sequer.
Vê, teu riso quebra as lousas,
Eu sou Lázaro, mulher.
Tu me perguntas, formosa,
Se a alma tem outra flor...
Se revive murcha a rosa...
Se renasce morto o amor...
Ingrata! pois tu duvidas?
Do influxo do teu poder!...
Minh'alma é planta aquecida
Nos teus sorrisos, mulher.
Ingrata! Tu que dás vida
Não vês sequer teu poder!...
Olha-me!... Eu vivo, querida!...
Eu sou Lázaro, mulher!
Eu era a triste crisálida,
Tu foste a luz do arrebol!...
Minh'alma desperta válida
Aos raios da luz do sol!...
Ingrata! Inda assim duvidas
Do influxo de teu poder...
Vês, minh'alma? É borboleta
Que tu salvaste, mulher.
Ingrata! E fazes prodígios
E não crês em ti sequer!...
Minha alma é lousa florida
Aos teus afagos, mulher!"
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